quinta-feira, 17 de março de 2011

Meteorologia - Ondas de Montanhas.

A partir dos anos 30, pilotos de planadores descobriram uma outra alternativa de ganhar altitude além da utilização das térmicas, as Ondas de Montanha.
Sucessivos recordes foram alcançados usando este artifício. Em 1952, na Califórnia, próximo à Serra Nevada, foram atingidos 44.500 pés; em Mojave, também na Califórnia, 46.266 pés em 1961. No Brasil, o recorde é de cerca de
27.000 pés.

Um piloto suéco, em 1958, a bordo de planador atingiu 48.000 pés, porém ele desmaiou por falta de oxigênio e seu avião caiu. A aeronave foi monitorada o tempo todo por radar, porém como o piloto não retornou para o pouso o recorde não foi validado.
As Ondas de Montanha podem também ser um indicativo de problemas à vista, representados pela turbulência orográfica a ela associada.
Entre vários acidentes aeronáuticos relacionados com o fenômeno, pode-se mencionar o ocorrido com um Boeing 737 da United Air Lines em 03 de março de 1991, próximo de Colorado Springs, Colorado, nos Estados Unidos, que vitimou os 5 tripulantes e 20 passageiros à bordo. Embora a NTSB (National Transportation Safety Board) não tenha chegado a uma conclusão definitiva sobre as causas desse acidente, duas hipóteses foram levantadas: o mau funcionamento dos sistemas de controle direcional da aeronave ou algum distúrbio atmosférico grave e, para fortalecer esta segunda teoria, testemunhas afirmaram ter visto, próximas da hora e local do acidente, nuvens rotoras, que são produzidas por uma combinação de fortes ventos em altitude nas vizinhanças de regiões montanhosas.

As Ondas de Montanha são formadas quando ventos de 20 nós ou mais atingem perpendicularmente (com desvio máximo de 50° de ângulo) uma montanha com 30° ou mais de inclinação. A barlavento da montanha, o ar é forçado a subir, enquanto à sotavento desce e estende seu efeito para baixo sobre o vale sob a forma de ondas, que podem se propagar por vários quilômetros, sendo as ondas mais próximas à montanha as mais turbulentas.
A turbulência nesse caso é de origem mecânica e sua extensão e intensidade dependem diretamente da velocidade do vento, da rugosidade do terreno, altura do obstáculo e da estabilidade do ar.
Apesar de serem mais intensas de acordo com a altitude mais elevada, as ondas de montanha podem ocorrer em qualquer faixa de terreno montanhoso ou sucessão de cristas com pelo menos 300 pés ou mais de altura.

A turbulência gerada por uma Onda de Montanha pode ser tão intensa quanto à ocasionada por uma trovoada; em experimentos realizados na região de Bishop, Califórnia, foram encontradas acelerações de 2G a 4G em correntes violentas de ar, tanto horizontal quanto verticalmente e, em uma certa ocasião, foram excedidos os 7G, com variações de 2000 a 3000 pés por minuto.
O fenômeno pode ser detectado visualmente através das nuvens lenticulares, em forma de discos voadores a invadir o céu. Tais nuvens se formam a barlavento das elevações montanhosas e têm posição estacionária, assim como as chamadas nuvens capuz (espécie de chapéu que se forma sobre a parte superior das serras) que, além da turbulência associada, encobre os picos das montanhas. Logo abaixo do fluxo das ondas podem se formar as nuvens rotoras e, junto a estas se encontra a turbulência mais severa, principalmente dentro e abaixo dessas nuvens.

Windshear também ocorre junto às rotoras, pois seus ventos formam uma elipse com ventos ascendentes junto à montanha e descendentes um pouco mais a frente. Tanto as nuvens rotoras quanto as lenticulares só irão se formar se houver condições de temperatura e umidade para isso e, sem elas, as Ondas de Montanha ficarão praticamente invisíveis e, portanto, mais perigosas para os pilotos que terão mais dificuldades em dimensionar as turbulências existentes.


Durante o inverno há maior probabilidade de se deparar com o fenômeno, quando o ar se encontra mais estável, sendo que os pilotos devem observar mais detidamente as cartas prognósticas de vento dos FL 050 e 100. Nas regiões da
Serra do Mar e Mantiqueira, onde as altitudes chegam a atingir cerca de 2000 metros, devem ser observadas a direção e a velocidade dos ventos nesses níveis. Um indício visual de quanto a turbulência está se estendendo verticalmente pode ser obtido pela observação do nível em que as nuvens lenticulares estão; por exemplo, a existência de uma nuvem alta lenticular do gênero Cirrocumulus dá a idéia de que a turbulência está se estendendo por muitos milhares de pés acima das montanhas.

Outro fenômeno importante são as correntes de jato (Jet Stream), pois mesmo em grandes altitudes estes fluxos de ar podem gerar Ondas de Montanhas em níveis mais baixos. Pilotos de aeronaves que cruzam a Cordilheira dos Andes devem atentar para as correntes que freqüentemente se formam naquela região com fortes fluxos de oeste.
No Brasil, dois dos locais mais prováveis de formação de Ondas de Montanhas são as Serras do Japi (Região de Jundiaí, SP) quando a componente do vento for de sul ou sudeste e Mantiqueira, quando o vento soprar de norte ou noroeste.

A localização de aeroportos próximos à serras ou colinas pode afetar seriamente os procedimentos de aproximação, pouso e decolagem, de acordo com o vento reinante. O Aeroporto de Guarulhos, recordista nacional em eventos de windshear, causados em grande parte pelas ondas orográficas ali formadas, deve ser objeto de preocupação das autoridades aeronáuticas, em uma época em que se planeja a construção de sua terceira pista, em local muito mais próximo das elevações montanhosas ali existentes.



Algumas dicas são importantes para um vôo seguro quando o assunto são Ondas de Montanha:

* Se não for possível evitar as ondas de montanha, deve-se voar a uma altitude que ultrapasse pelo menos 50% a altura das elevações.
* Alcance a altitude de 3000 a 5000 pés acima das elevações antes de cruzá-las
* O melhor procedimento para cruzar as montanhas é com um ângulo de 45° para possibilitar uma rápida retirada no caso da turbulência ser encontrada
* Evite nuvens lenticulares, principalmente se os seus bordos estiverem esfarrapados e irregulares
* Evite as nuvens rotoras pois elas se encontram nas áreas de turbulência mais intensa das ondas de montanha
* Não confie excessivamente nas leituras do altímetro próximo a picos montanhosos, pois podem indicar altitudes superiores a 1.000 pés em relação à altitude real.
* Escolha previamente uma rota mais favorável.

Ao voar sobre regiões montanhosas é bom não contar com a sorte, pois nem só o mar vive de ondas!


BIBLIOGRAFIA:

Ministério da Aeronáutica, IPV, Ondas de montanha, uma força sobrepujada apenas pelos tornados. Apostila do Curso OP-178 (Especialização em Meteorologia Aeronáutica), s/d.

EICHENBERGER, W. Meteorologia para aviadores. Paraninfo. Madrid, 1976, MAER. Meteorologia para aeronavegantes. MMA-DR-105-3,

MAER. Meteorologia para pilotos. MMA-DR-105-2.

LEDESMA, M. y BALERIOLA, G. Meteorologia aplicada a la aviación. Paraninfo. 1984,

LESTER, P.F. Aviation weather. Jeppesen Sanderson Training Products. 1997,

SONNEMAKER, J.B. Meteorologia. Editora Asa, 1989.


Artigo escrito por : Edson Cabral - Marcelo Romão

Retirado do site: http://www.servicos.hd1.com.br/ventonw/index.htm

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